Eu nunca liguei muito pras marcas de copo

Eu sempre gostei de móveis de madeira, tenho alguns, e ao contrário da maioria das pessoas que possuem, ou mesmo as que não tem móveis de madeira, eu nunca liguei pra aquelas marcas que o copo deixa nos móveis, seja de café, cerveja, água e o que for, acho charmoso. Pra mim, faz o móvel mostrar que ali viveram pessoas.

Mas sei que represento poucos.

As marcas que o meu mundo tem.

A marca do redondo, do copo e da garrafa no móvel.

A do muito usar da lousinha que eu tenho aqui,

pra me lembrar de algo.

As marcas enrugadas do violão, que eu uso pouco,

réu confesso.

As marcas da desilusão.

As marcas do tempo nos meus cabelos grisalhos

A do meu dedo torto, de quando eu fiz box,

que erro.

Que erro ter amado tanto naquela época,

não pelo amor, mas pelo desperdício de tempo,

na dor, sinto falta hoje de todo o tempo que desperdicei.

São as marcas da idade que pesa no meu ombro,

da medo de ficar para trás, sensação de atrasado.

A marca da luta que eu luto,

e da luta que eu sei que tenho que lutar,

mas sinto que deixo passar pela falta de sobriedade,

ou alienação.

A marca dos tantos sorrisos orquestrados,

da falsa impressão.

As marcas da desilusão.

Do poeta e a dor, que diz que finge que sente,

o que sente.

As marcas da falta que me faz, papel e caneta.

Ou de só ficar ouvindo Christafari, sem crise,

pensando que meu problema foi o trabalho

que eu não fiz, e vale peso 5.

As marcas das dores que causei,

pois eu sei que não sou coitado,

nem quero ser, que bom que não sou.

As marcas dos perdões que eu não pude pedir

As marcas das vezes que menti,

principalmente das que menti pra mim.

As marcas do que deixei de dizer, fazer.

De te deixar pra trás KC.

Sem falar o que você queria ouvir.

As marcas das minhas escolhas,

quase sempre erradas.

Mas não há termômetro pra indicar.

As marcas da desilusão

A marca do redondo, do copo e da garrafa no móvel.

A única que eu nunca liguei muito.

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